Existe um segmento de história assim como um segmento de reta na geometria e um segmento nas camadas da terra. A história é feita em camadas assim como a arqueologia e a paleontologia e a geologia estão nas camadas da terra ; a história está nas camadas da mente humana, encoberta por signos e símbolos que a ocultam, segmentam-na no pensamento, na memória e na imaginação.
A história é tecida em um tempo, com o corpo e a cultura que veste o ser humano; depois que a história se desencarna desse corpo humano, cultural, linguístico e social fica apenas na memória ; porém a memória tem buracos, que somente a imaginação pode tapar. Esse tapar buracos da memória com a imaginação é o que chamam de poesia, ciência, filosofia, religião.
A história de Jesus é um segmento de várias histórias, uma colagem da memória no transcurso do tempo, uma erosão no tempo.
A história, na verdade, é uma junção de histórias que se mesclam no transcurso do tempo : um tempo se liga indelevelmente a outro ou a outros tempos e um homem ou um deus a outro homem ou outros homens e a outro deus ou outros deuses, num segmento em camadas da história alheia que se torna própria de uma pessoa ou uma personagem, quando lida, estudada e escrita por muitos escritores, comentadores, glosadores, filósofos, cientistas, etc. A história de um se torna, destarte, a história de muitos, mesmo porque qualquer história individual está vinculada a um tempo e a homens que fizeram aquele tempo ( seria o tempo também uma casa do homem?).
O caso de Jesus é típico ; um homem cujas muitas histórias de outros homens e de deuses se encarnaram nele, incorporam-se à sua história, fabricando as lendas que ele atraiu a si ou que seus seguidores e o cristianismo inventou ou imaginou, tal qual ocorre com outros homens influentes ou célebres. Essas personagens deixam de ser o que foram e passam à transcendência do pensamento, ao idílio dos poetas e profetas e à utopia dos sacerdotes.
A parusia do imperador de Roma, virou a volta gloriosa de Jesus, a divindade do Faraó e dos césares de Roma passaram à figura de Jesus, que também ganhou a alcunha nobre de Messias em hebraico-aramaico ou Cristo, em grego : foi coberto de títulos pomposos em línguas importantes e na língua natal.
A divindade de Jesus, como a do Faraó, constituiu um poder político extraordinário para seu reino : a Igreja. O reino dos céus de Jesus, do qual ele tanto falava, é a Igreja católica apostólica romana, ou seja, é a continuação de Roma no corpo de uma filha : a Igreja, que é essa filha espiritual, uma alienação mental ou um monstro mental como costumam ser todos os filhos que, em geral, são nossos oponentes ou algozes.
Há um quê de genética social, algo que denominam de memes; os ascendentes de Jesus, na história da cultura, são deuses como Osíris, Adônis e Dioniso, bem como o deus Mitra, que é o Cristo ressuscitado antecedente. Divindades tipo Cristo são comuns a todas as culturas. Na Índia tem o deus Krihsna, dentre inúmeros outros.
dentre os homens que compuseram os vários estratos ou segmentos da história de Jesus Cristo, temos outros Messias que apareceram em Israel, antes de Jesus sair pregando. O antecessor judaico desse "gene" social foi uma utopia que passou pela cabeça do grande profeta ( poeta e justiceiro por palavras ) Isaías, que previu em seus delírios a vinda ou o advento do Messias e a parusia, ou dia do senhor, que, no cristianismo, se transformou no dia do advento ou segunda vinda de Cristo que, não obstante, não veio, nem tampouco virá, pois o sonho é possível de se realizar tão-somente com o sangue dos signos escritos e dos símbolos em forma de poesia ou arte; porém, a realidade, a natureza, que é o deus de fato, rege-se por fatos e não por atos humanos, conquanto o homem tenha feito muito em atos com a tecnologia. Contudo, nem mesmo a tecnologia não domina os fatos, são atos que perdem muito de seus objetivos e fins quando em interação com os fatos naturais, sociais e psicológicos.
De mais a mais tem homens que
Roma matou Jesus e sobe seu cadáver construiu a sua igreja; assim fazem os poderosos.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
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